As pessoas são
“um lugar estranho”
Como pensar o marketing e o UX content
para os enviesamentos na decisão e para o fast thinking
As pessoas são
“um lugar estranho”
Como pensar o marketing e o UX content
para os enviesamentos na decisão e para o fast thinking
Na verdade, fazem-no muitas vezes. Richard Thaler, um dos economistas comportamentais pioneiros, explica que, não só, toda a gente tem um potencial Homer Simpson escondido dentro de si desejoso por se mostrar, mas também reforça o trabalho de psicólogos que se tornaram gurus do marketing, como o vencedor do Prémio Nobel Daniel Kahneman, pioneiro de dois sistemas cerebrais em “Thinking, Fast and Slow”.
Pelo menos, quando se trata de tomadas de decisão e escolha. Pensemos nas decisões que tomamos no dia-a-dia. Trancamos a porta de forma tão intuitiva e fazemos login nas apps favoritas com tanta facilidade, que às vezes voltamos para ver se a porta está realmente trancada ou esquecemos passwords quando o telemóvel é reiniciado. Estas são as ações que executamos sem julgamento e consideração – o sistema automático 1. Noutras ocasiões, precisamos de relembrar um número de telemóvel que só ligamos de vez em quando ou precisamos de somar os preços do supermercado para verificar se temos dinheiro suficiente no bolso, ações que pedem algum esforço, atenção e consideração – o sistema reflexivo 2.
O marketing é, acima de tudo, sobre tomadas de decisão e os líderes devem ser os primeiros a entender e priorizar estratégias para superar essa questão: Tendemos a pensar nos utilizadores como jogadores racionais, mas as pessoas têm um forte histórico de enviesamentos comportamentais. Porquê? Porque a preguiça do nosso processo de decisão racional e a facilidade cognitiva que todos apreciam, dão à emoção uma vantagem clara sobre a razão.
Sim, não somos tão racionais quando se trata de decisões quanto fingimos ser. Isso deve fazer parte da equação, sempre que o trabalho a fazer estiver relacionado com uma interface digital e uma experiência de utilizador.
Portanto, se as pessoas estão a decidir, na maioria das vezes, com os seus sistemas automáticos ativados, como podemos tornar o marketing e os produtos digitais fáceis de usar e focados na tarefa? Um grande indicador de sucesso da experiência não é o que as pessoas fazem, mas como as fazemos sentir durante o processo. Os sentimentos são laços duradouros com as marcas.
Se as emoções tornam a escolha menos ponderada e racional, devemos reconhecer alguns enviesamentos emocionais ao projetar a experiência digital. As opções de design e as palavras precisam de estar alinhadas com os hábitos, que nem mesmo nós percebemos em nós mesmos.
Jakob Nielsen, pioneiro da usabilidade e fundador do Nielsen Norman Group, tem um forte argumento sobre ser consistente: “A consistência é um dos princípios de usabilidade mais poderosos: quando as coisas se comportam sempre da mesma forma, os utilizadores não precisam de se preocupar com o que vai acontecer”. Uber, Bolt, Kapten e outras marcas da gig economy (economia de empresas com trabalhadores independentes), sabem que a consistência é importante quando as pessoas mudam de uma experiência para outra, de uma de aplicação para a concorrente. Uma única pergunta, uma escolha de palavras simples e destinos por defeito fazem parte de uma experiência semelhante de todas as plataformas. Se sabes como usar uma, sabes como usar todas.
As pessoas reagem positivamente aos benefícios e recompensas. BJ Fogg, cientista do comportamento da Universidade de Stanford e autor de “Tiny Habits”, deixa claro no seu livro: “Existe uma ligação direta entre o que se sente quando se tem um determinado comportamento, e a probabilidade de repetir o comportamento no futuro.” Mas se dermos tudo de uma vez, não conseguiremos criar um relacionamento longo com um cliente ou um prospect. Devemos usar o conteúdo para criar o processo progressivo ou traduzir os benefícios em ganhos materiais. Isso criará um vínculo ou um hábito.
Temos a tendência de gostar de tudo em alguém ou em alguma coisa porque aumentamos o peso das primeiras impressões. Vamos pensar nisso mesmo: imaginemos que estamos a contratar um especialista em marketing digital e alguém nos enviou uma lista com os dois melhores.
Tiramos conclusões precipitadas com muita facilidade e assumimos que o que vemos é tudo o que existe (WYSIATI). O que importa é a consistência, não a integridade da história. O enquadramento é muito eficaz ao lidar com essa tendência emocional. As pessoas tendem a obter as informações disponíveis e tratá-las como se fossem o cenário completo. É por isso que devemos concentrar-nos no lado positivo de um benefício.
Se o número de opções exceder o razoável em termos de esforço, ficamos confusos. “Menos é mais” é um ditado que não encontrarás na maioria dos simuladores de seguros desenhados para calcular um prémio/preço a pagar. Não só as marcas estão a perder a facilidade e o sistema automático, como estão a pedir muitas coisas com antecedência. O resultado? Acionam o sistema 2 (reflexivo) que percebe que não é justo pedir tanto por tão pouco. Ferramentas como calculadoras de valor do seguro são um bom exemplo de extremos quando se trata de esforço mental (e às vezes físico, se a informação solicitada não estiver próxima).
Imagina que estamos no supermercado e vamos comprar vinho. O livro “Webs of Influence” de Nathalie Nahai, traz um curioso estudo sobre a conversão e a tomada de decisão neste contexto. Numa experiência, os investigadores tocaram música francesa e alemã num supermercado e chegaram a uma estranha conclusão. Quando tocavam música francesa, os vinhos franceses vendiam mais, mas quando tocavam músicas alemãs, os vinhos alemães lideravam. O que aconteceu? Priming, uma influência de algo que acabamos de experienciar no nosso comportamento normal.
No mundo digital encontramos muitos exemplos de priming: uma homepage do site de uma escola com fotos de crianças muito pequenas, quando tem ensino até ao secundário, ou uma página de inscrição num serviço/marca que diz mais do que precisa e toca tópicos muito sensíveis de priming, como a segurança.
Gostamos de comparar o nosso desempenho e replicar as ações dos outros. Se mostrarmos uma meta ou conquista e compararmos com a comunidade, a recompensa é maior e mais agradável. A aplicação Elevate (aplicação do ano da Apple, em 2014) é um exemplo claro de um comportamento de espelho, que é a base da gamificação. Além de ser uma ótima app para treino de habilidades mentais e soft skills, também nos podemos comparar com a comunidade e deixar a dopamina fluir.
Agora que sabemos que existem muitas tendências que colocam a intuição e a emoção em cima de um lado racional preguiçoso, é hora de lidar com isso. Devemos começar a traçar um plano de ação para conquistar o lado mais emocional das pessoas e impactar o lado tomador de decisões mais descontraído. Não queremos acordar o Sistema 2, o perfil lento que irá corroer a experiência e torná-la mais difícil e complexa. E como o devemos fazer? Bem, o UX writing nasceu para isso.
A estratégia de marketing digital tem muito a ver com emoções. Mapas de empatia, personas, jornadas do cliente e tom de voz têm tudo a ver com pessoas e traços de personalidade. Podemos estudar profundamente essas tendências comportamentais, como fazemos nativamente na Plot, e fazer das pessoas o nosso ativo mais valioso. Na verdade, saber sobre pessoas é saber sobre a sua experiência e é por isso que o UX (experiência do utilizador) teve um grande crescimento nos últimos anos (o modelo Lexus UX também deve estar a vender muito bem, por sinal).
User Experience (Design) é uma disciplina que vive normalmente na área do Design, mas a verdade é que a experiência de um produto ou serviço digital não termina no design.
Além dos wireframes e da arquitetura de informação, que resultam do trabalho de User Experience, (pode ser feito por um UX designer ou por alguém fora da disciplina com habilidades nessa área, como um estratega), existem mensagens que dão suporte ao “ projeto”. E se há necessidade de instruções e comunicação escrita, há palavras. É aqui que entra a escrita UX, ou UX writing, que, desde 2018, está a receber cada vez mais atenção.
O UX writing (versão norte-americana, Content design na Austrália) vive entre três dimensões: estratégia de conteúdo, design e user research e lida com atrito e incerteza em experiências digitais. A fricção ou atrito é qualquer coisa que torna as tarefas mais difíceis ou faz com que as pessoas se sintam confusas, frustradas e menos propensas a continuar a usar o produto. É outra maneira de olhar para a carga cognitiva, o esforço necessário para realizar uma tarefa. É por isso que a escrita UX é muito mais do que palavras. O UX deve ocupar um lugar desde o início de qualquer interface que estejas a criar. Acabaram-se os “lorem ipsum”.
Cada experiência é uma conversa. O “Strategic Writing for UX” de Torrey Podmajersky e o “Conversational Design” de Erika Hall são dois ótimos livros de exemplo. Temos de usar palavras que acompanham situações da vida real, em vez de uma linguagem formal e erudita, que ninguém revê no seu caso. E o que tem de estar acima de tudo? Que a experiência é movida pela emoção e que, por isso, devemos usar frases e palavras que todos usamos normalmente em CTA (call to action), links, botões e qualquer outro conteúdo de UX.
As pessoas não leem. Elas passam pelas páginas rapidamente, fazem scan e skim. Por isso, temos apenas alguns segundos e poucas palavras para chamar a sua atenção (de acordo com o Nielsen & Norman Group, as pessoas leem apenas 20% de uma página web).
Revê cada palavra. Todo o esforço deve ser feito para tornar as coisas claras. Onde estou, o que posso fazer aqui, como posso seguir em frente e o que acontecerá a seguir são as perguntas a serem respondidas em cada ecrã do smartphone ou numa página de um website. E ser mais educado não é ser mais eficaz nem inteligente, como sugere este estudo de Daniel Oppenheimer, da Universidade de Princeton.
Breve e claro, é ótimo. Mas as pessoas precisam de sentir que a experiência foi exatamente desenhada para elas. A escrita UX, o UX writing, deve definir a razão de qualquer fluxo de tarefa ou ação. Temos que listar todos os objetivos de cada tarefa ou ação para criar a melhor solução para o conteúdo de UX.
A escrita UX oferece copy e palavras. As pequenas frases e escolhas de palavras em botões, CTAs, links, espaços reservados, mensagens de erro e arquitetura de informações são exemplos de microcopy. Mas essas pequenas peças são apenas uma parte de um grande quebra-cabeças, o User Experience Content (UX Content), que também é responsável pelo conteúdo de e-mail, notificações e outros textos que fazem com que as pessoas se sintam confortáveis com a experiência.
Na Plot somos informais, irreverentes, especialistas, bem-humorados e provocadores, e achamos que isso está bem presente no nosso website, certo?
A experiência de utilizador existe para este momento: dever cumprido (ou conversão). O comportamento e enviesamentos humanos fazem tornam a experiência menos racional e mais emocional. Conhecer os limites do cérebro e o que leva cada um de nós a preferir um processo de tomada de decisão descontraído, é importante para desenhar mensagens e experiências mais humanas, amigáveis e conversacionais.
Para isso, temos a disciplina de UX writing, a disciplina de conteúdo que podemos usar para elevar a nossa experiência de escrita, desde as palavras mais curtas (CTA ou rótulos), até às notificações amigáveis e úteis que assinalam aniversários e momentos-chave em todas as plataformas de redes sociais.
Ajustem o conteúdo para uma jornada vencedora em todos os pontos de contacto da marca, e lembrem-se sempre da frase célebre de Maya Angelou: “As pessoas vão esquecer o que disse, as pessoas vão esquecer o que fez, mas as pessoas nunca vão esquecer como as fez sentir.”